Própolis – Mitos e verdades
Entrevista com Niraldo, Ph.D. Farmacologia, CEO e Diretor de Negócios da Medical Lex Gestão de Informações e Cursos. Mestre e doutor na área de farmacologia de plantas medicinais, no qual chegou a realizar trabalhos diretamente com a própolis.
Mayara Athayde, Gerente de Relacionamento do IRSFD entrevistou o Prof. Niraldo a respeito de mitos e verdades sobre a própolis, acompanhe a seguir a entrevista:
Mayara: As pessoas acreditam que a própolis é produzida por abelhas, mas alguns dizem que isso é mito? Qual a verdade? O que é exatamente a própolis?
Niraldo: A própolis, substantivo feminino, é uma resina natural coletada pelas abelhas a partir das vegetações do entorno da colmeia. Na colmeia existem abelhas especializada na busca, prospecção e coleta dessa resina de determinadas plantas, misturam o material resinoso com as suas secreções salivares, isso altera essa resina e ela utiliza então para fazer o fechamento das colmeias para não haver algum tipo de invasão de outros insetos. Por isso o nome é própolis, Pró = defesa, Poli = cidade. É importante salientar que a abelha coleta resina de uma determinada espécie vegetal que está no entorno da colmeia então sempre vai ter uma preferência para que as abelhas utilizem essa resina, o interior da colmeia é mantido estéreo em função das concentrações desses princípios ativos que são volatilizados para dentro e impedem o crescimento de bactérias e vírus. Tivemos um Congresso recente, no qual eu fiz uma palestra sobre o ar da colmeia, tem um grupo de apiterapia utilizando o ar da colmeia para tratamento de processos respiratórios, essas substâncias que são volatilizadas no interior da colmeia que vão fazer essa dinâmica de esterilidade e manutenção da integridade física das colmeias.
Mayara: Quais os principais tipos de própolis que existem?
Niraldo: As abelhas elegem uma única planta do entorno para fazer a extração dessa resina, então por exemplo na região sul do Brasil as abelhas elegem eucalipto-citriodora e Araucária angustifolia para coletar as resinas e levar para a comédia para fazer a própria resina, dando origem à própolis marrom com diferentes constituintes químicos. Na região sudeste as abelhas se apropriam da resina do alecrim do campo que é a Baccharis dracunculifolia, é uma planta pioneira que cresce inicialmente em todas as regiões do sudeste como uma planta de cobertura vegetal inicial, dando origem à própolis verde. Recentemente foi descoberto uma própolis vermelha na região litorânea do Nordeste, a partir de uma plantinha chamada rabo-de-bugio que cresce na região dos mangues. Essa planta se trata de um cipó e a perfuração de um inseto faz com que secrete uma resina avermelhada e abelha coleta essa resina aproveitando essa associação. Essa própolis também pode ser encontrada na região amazônica e do Pantanal, são muito menos conhecidas quimicamente e biologicamente, as mais estudadas são a própolis verde pela produção também maciça que é exportada para muitos países como Japão e Europa, e a própolis marrom.
Mayara: Quais os benefícios à saúde realmente comprovados da própolis?
Niraldo: Os primeiros estudos com a própolis foram na Europa, lá ela é produzida partir da resina de Populus nigra que é o álamo, um Pinheiro que cresce em toda a região central da Europa, e que oferece grandes concentrações de resina para as abelhas. Elas são um pouquinho diferentes das abelhas brasileiras, porque aqui no Brasil a gente teve um processo de miscigenação entre as abelhas nativas e as abelhas europeias, que vieram para cá a partir da colonização com os imigrantes, e as abelhas africanas que também foram trazidas para cá para um estudo, dessa mistura que surgiu a nossa Apis mellífera brasileira. A abelha europeia dá origem a uma própolis de coloração marrom e que tem compostos derivados do ácido cafeico, essa foi a primeira a primeira própolis a ter um estudo muito intenso, pela própria característica de utilização popular e validação da próprios como agente anti-inflamatório e antimicrobiano. Começaram a investigar na colmeia quais os compostos que tinham atividade antimicrobiana e aí chegaram na própolis, as abelhas buscam as resinas das plantas que têm componentes antimicrobianos para manter a estabilidade do ambiente interno, provando a ação antimicrobiana, antifúngica e antiviral. Mesmo tendo composições químicas distintas por exemplo, a própolis marrom é diferente da própolis verde quimicamente, mas todas mantém a mesma função porque é isso que a abelha busca na natureza.
Niraldo: No caso da covid, a própolis tem as propriedades antimicrobianas e antivirais, então pode ser usada para impedir o crescimento e a colonização do vírus no ambiente respiratório, que é a porta de entrada principal do vírus. Num segundo momento a própolis tem atividades anti-inflamatórias, reduzindo a intensidade da resposta inflamatória produzida pela proliferação do vírus em pacientes que já foram contaminados. Depois nós temos uma ação imunomoduladora e a ação antioxidante, no sequestro dos radicais livres que são formados a partir da inflamação gerada pela proliferação do vírus, que deixam aquelas sequelas nos pacientes pós-covid.
Mayara: Professor gostaria que contasse o que te motivou a escrever um livro sobre Própolis?
Niraldo: Foram 20 anos de estudos sobre a própolis brasileira, em que desenvolvemos todas as metodologias para validação, com toda a história da própolis e história da pesquisa, com todo o esquema de atividades desenvolvidos e os parceiros que participaram do trabalho. É o único estudo do mundo de longa duração com a própolis brasileira, tanto que houve repercussão até no exterior, no qual demos algumas palestras para divulgar o resultado da pesquisa. Partimos desde a coleta da resina, como padronizar essa coleta e transformá-la em extrato, quais as condições melhores para poder extrair e os processos de transformação do extrato em formas farmacêuticas. Mostramos gel dental, enxaguante bucal, fio dental, uma solução desenvolvemos sendo um gel vaginal para tratar a vaginite, formas cosméticas também, como o xampu de própolis, creme de própolis e pomada cicatrizante.
Niraldo: O que me motivou foram os alunos, nós temos um curso de pós-graduação de fitoterapia clínica pela Medical Lex, nossa empresa. Sempre falamos da própolis como um insumo para o tratamento das patologias e ficamos com um material muito rico fazendo toda essa prospecção de informações, fazendo uma validação de informações terapêuticas e farmacológicas de outros estudos referenciados na literatura Internacional. Então quando preparamos esse material para dar aula ficou um conteúdo gigante e pensamos em transformar em um material de biográfico, então partimos para essa via de divulgação.
Mayara: Você acha que a própolis pode ser considerado um ingrediente funcional para uso em alimentos? Se sim, quais seriam os seus compostos bioativos e como padronizar sua dosagem para garantia do efeito?
Niraldo: a própolis não é um alimento com características nutricionais, entretanto ele é um ótimo suplemento nutricional porque ele contém flavonoides e compostos fenólicos, que são extremamente bioativos, tanto que padronização em termos de Ministério da agricultura, onde se tem um registro sanitário, se dá em termos de teores de compostos fenólicos e flavonoides. Por possuir propriedades antioxidantes e antimicrobianas como a gente já mencionou, a própolis tem alto teor de eficiência terapêutica e que associados a outros componentes, ou eles sozinhos, podem garantir essa função de suplemento. Curiosamente, no Japão há um aviário em que as galinhas são alimentadas com própolis que resultam em ovos com compostos fenólicos e flavonoides. Aqui no brasil desenvolvemos em conjunto com a Universidade Federal de Pelotas um processo de produção de coadjuvante vacinal para a área veterinária, por exemplo a produção da vacina convencional e a vacina convencional adicionada a própolis, aumentando a segurança vacinal em cerca de 90%.
Mayara: Existe alguma legislação que autoriza o uso da própolis como ingrediente funcional?
Niraldo: Existe a regulamentação da Anvisa que padronizou o uso da própolis como fonte de compostos fenólicos, como opoterápicos, ou seja, quem quiser registrar um produto a base de própolis poderia registrá-lo como um medicamento específico área de opoterápicos. Opoterápico um medicamento cuja origem é produzida a partir de animais, então as abelhas entrariam como produtores dessa resina que seria pega como uso farmacêutico, para uso em cavidades e mucosas. Mais recentemente a Anvisa atualizou essa legislação oferecendo a possibilidade de usar a própolis como fonte de compostos fenólicos, então dá para utilizá-lo dentro do processo de registro de suplementos.
Mayara: E se fosse usar a própolis como um suplemento em alimentos ela teria que passar por um processo de comprovação da funcionalidade? Pois ela não possui legislação específica para o caso.
Niraldo: Podemos usar a legislação que já está em vigor, porque a comprovação da eficácia já está embutida na autorização da Anvisa. A funcionalidade desse alimento seria interessante para fins de comercialização e informação, implementar a própolis dentro de alimentos gera registro dentro do próprio MAPA como uma fonte de compostos fenólicos.
Mayara: Você daria alguma recomendação para quem quer usar o extrato de própolis? Como usar corretamente? Como saber se o produto possui boa qualidade e se é devidamente padronizado?
Niraldo: O comércio que vende artesanalmente normalmente só possuem o registro do SIF, não tem método de controle de qualidade apenas a padronização do processo de produção, então não tem um controle das quantidades presentes da resina dentro da solução. Já os grandes produtores são obrigados pela própria vigilância do MAPA respeitarem para o registro sanitário, que são essas concentrações mínimas de 11%. São informações que já garantem alguma segurança, para concentração média de 15% recomendamos o uso desse extrato líquido de 15 a 30 gotas, pelo menos 2 vezes ao dia, para garantir um processo de integridade imunológica, sendo importante para reduzir grau de disbiose intestinal, gripes de repetição, infecções vaginais e outros tipos de infecções.
Mayara: Tem algum horário certo para tomar?
Niraldo: Nós investigamos com a própolis verde a farmacocinética, a biodisponibilidade desses compostos que são muito maiores nas faixas de PH mais ácidos, então nos intervalos das refeições ou no jejum são os melhores momentos porque o ambiente ácido do estomago facilita a absorção.
Autor: Beatriz Rudink de Campos, Téc. em Adm e estudante de Biologia.
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